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Dia Mundial do Orgasmo, o que podemos celebrar?

O Dia Mundial do Orgasmo é comemorado em 31 de julho, e a data começou a ser celebrada em 1999, por iniciativa de algumas lojas britânicas de produtos sensuais, que tinham como objetivo aumentar as suas vendas e incitar o debate sobre a Sexualidade.

 

É possível que além da divulgação, estas mesmas lojas recebiam um enorme número de clientes com queixas a cerca da dificuldade de experimentar o orgasmo, mas a grande busca e autocobrança está relacionada a anorgasmia sob a ótima do relacionamento com penetração. Estes clientes, corriam em busca de alternativas que pudessem aproximá-los da experiência orgástica de maneira mais rápida e mágica.

 

Homens e mulheres têm orgasmo, mas uma grande parcela de mulheres tem dificuldade, segundo Carmita Abdo (2019) na mulher os transtornos do orgasmo são resultado de bloqueio já na excitação, uma das fases da resposta sexual humana.

 

Um dos aspectos relevante para a experiência orgástica está relacionada ao conhecimento acerca da Sexualidade Humana, a diferença entre Sexo e Sexualidade, e o registro das aprendizagens sobre o tema oriundos da família de origem e das experiencias vividas no período das descobertas. Sabe-se que a Sexualidade quando é disfuncional (quando algo impede o funcionamento normal da função sexual) pode ter origem biológica, mas como terapeutas, psicólogos e profissionais da saúde, as questões emocionais terão uma influência anterior ou posterior no sintoma do paciente.

 

Neste sentido, apsicoeducação sexual é que torna o prazer mais acessível, trabalhando tabus, crenças e mitos a cerca da Sexualidade e de como ela pode ser vivida. Para “a mulher vitoriana, a anorgasmia(ausência de orgasmo) não era problema, pois não se esperava que ela tivesse prazer no sexo, muito menos que experimentasse um orgasmo. Hoje não só se espera que as mulheres tenham orgasmos, mas que os tenham múltiplos, com a utilização de vários meios, num período razoável de tempo, e que os desfrutem com prazer e orgulho.” Lonie Barbach.

 

Essa mudança é muito significativa, e a partir do fim dos casamentos arranjados, da conquista da independência financeira, da contracepção, da entrada da mulher no mercado de trabalho, a sexualidade deixou de ser uma obrigação e seu objetivo passou a ser o prazer, embora ainda tenhamos muitos impedimentos.

 

A Sexualidade ainda é um tabu que precisa ser desmitificado. O funcionamento sexual, se desenvolve segundo Basson (1999) em etapas de maneira circular através de desejo, excitação, orgasmo e resolução.  E o que significa um bom funcionamento sexual e como ele se desenvolve, onde uma das etapas é o orgasmo?

 

Segundo McCarthy (2002) o bom funcionamento sexual é a “habilidade de experimentar desejo (antecipação positiva e sentir-se merecedor do prazer sexual), excitação (receptividade e reatividade ao toque erótico, resultando na lubrificação para mulher e na ereção para o homem), orgasmo (uma reação voluntária que é a culminação (auge) da alta excitação) e satisfação (sentir-se emocional e sexualmente realizado e conectado)."


O orgasmo, nosso tema em pauta, segundo Hare (2010), “é uma sucessão de sensações muito prazerosas no clitóris e ao seu redor e/ou na vagina...Em seguida, há o desejo de transpor o êxtase desse estímulo diferente de qualquer outro e deixar-se levar por um prazer extremo diferente de qualquer outro – essa é a parte mais intensa e a principal.”


Mas, porque para muitos o funcionamento sexual, especialmente o orgasmo não acontece, ou é sentido como insuficiente? Temos vários fatores etiológicos que impedem ou atrapalham a experiência sexual satisfatória, como fatores biológicos (desequilíbrio ou insuficiências hormonais, disfunções nos neurotransmissor, medicamentos e seus efeitos, doenças agudas e crônicas), fatores psicológicos (ansiedade, depressão, transtornos do apego, transtornos de personalidade ou outras patologias, fatores ligados ao desenvolvimento (ausência de educação ou permissão sexual, infância ou adolescência marcadas por privação emocional, física, verbal ou afetiva, experiências traumática de violência sexual), fatores interpessoais (conflitos, dificuldades e perdas no relacionamento, disfunções sexuais da parceria), fatores contextuais (ambiente sem privacidade, segurança e conforto) e fatores culturais e religiosos (questões morais e crenças religiosas ou culturais relativas a conduta sexual esperada e apropriada). Além destes fatores, podemos pensar também no baixo autoconhecimento erótico, no repertório sexual restrito e na relação com a parceria.

 

Há uma variedade de técnicas em Terapia Sexual, utilizadas por ginecologistas, fisioterapeutas pélvicos e psicólogos (profissionais especializados em Sexologia) que podem ser empregadas para trabalhar a etiologia da anorgasmia (ausência de orgasmo) e as demais etapas do ciclo da resposta sexual humana. Frühauf  (2013) em uma Revisão sistemática de 34 estudos de ensaios clínicos randomizados, ficou demonstrado que intervenções de terapia sexual, reduziram a gravidade dos sintomas e melhoraram a satisfação sexual, em mulheres com transtorno Orgásmico.

 

O autoconhecimento erótico é um fator importante para ter orgasmo e segundo Carmita Abdo (2021), hoje temos várias informações sobre o orgasmo, dentre elas: tem duração de 5 a 15 segundos, a sensação de prazer e conforto é sucedida por relaxamento, bem-estar e necessidade de repouso, o número de orgasmos varia de pessoa para pessoa, mas as mulheres tem um tempo refratário menor que o homem, podendo retomar o estímulo e ter outro na mesma relação. Segundo Lopiccolo (1992)a masturbação e mesmo o uso de vibrador é indicada em especial quando a mulher está aprendendo a ter orgasmo. Ele cita também que esse é um grande tabu, pois as mulheres em geral tem receio de dependerem do vibrador para sentir prazer. Ele destaca que é a mulher que controla o vibrador, assim como é importante descobrir outros tipos de estímulos, este em especial também irá proporcionar e aumentar o autoconhecimento do corpo, podendo seu utilizado com parceria ou não.

 

Tem um fator muito importante e pouco considerado na experiência sexual, em especial do orgasmo que pode ser determinante, a busca por tratamento das questões sexuais. Isso acontece por dois grandes motivos: 1- Muitas mulheres ainda fingem ter orgasmo, o que as impede de viver uma sexualidade mais próxima do prazer máximo por medo de estabelecer uma comunicação sexual com a parceria e consigo mesma. 2- O medo, os tabus e as dificuldades de abordar o tema não são apenas dos pacientes, mas também dos profissionais da área da saúde, que não tem o devido preparo técnico e científico para abordar essa temática nos atendimentos, envolvendo o tema em silêncio.

 

Carecemos de diálogo profundos, encorajamento, programas de desenvolvimento sexual, equipes técnicas reconhecendo a importância da sexualidade na vida da pessoa e embasando sua atuação numa Psicoeducação sexual que oportunize a vivência do Orgasmo e não só ele, como diz McCarthy (1981), a relação sexual é uma das muitas atividades em que um casal pode mutuamente cooperar para se dar prazer. E então teremos muito mais a celebrar.

 

“Começando, como é natural, pelas coisas primeiras.” Aristóteles.

 

Barbara Ahlert - Psicóloga, Terapeuta de Casal, Terapeuta Sexual

CRP 07/08704

 

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

 Abdo, Carmita. Da depressão à disfunção sexual (e vice-versa) – São Paulo: Segmento Farma, 2019.

Carmita Abdo em entrevista https://www.priorizandominhasaude.com/2021/05/15/orgasmo-veja-alguns-fatos-cientificos-sobre-ele/

Frühauf, S, et al. Efficacy of psychological interventions for sexual dysfunction: a systematic review and meta-analysis. Arch of Sex Behavior, 2013.v. (42): n. 6, p. 915-933.

Glina, Sidney. Manual prático de condutas em medicina sexual e sexologia. São Paulo: Santos, 2013.

Hare, Jenny. Orgasmos: como chegar lá; tradução Fatima Santos – Rio de Janeiro: Best Seller, 2010

Heiman, J., Lopiccolo, J. Descobrindo o prazer: uma proposta de crescimento sexual para mulher. São Paulo, Summus, 1992

Kerner, Ian. As mulheres primeiro. tradução de Andre Fontenelle. Rio de Janeiro: Sextante, 2020.

Leiblum, S. Pervin, L. Princípios e práticas da Terapia Sexual; Zahar 1980.

McCarthy, Barry. O que você ainda não sabe sobre a Sexualidade Masculina. São Paulo, Summus, 1981.